segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Feminismo: A luta contra...o Homem?

Eu, Feminista
Desde minha adolescência eu me considero um feminista. Simplesmente ouvi a palavra e olhei no dicionário (infelizmente há mais de 14 anos não tínhamos internet, e muito menos o google...). E estava lá:

Feminismo: Movimento que luta pelos direitos iguais entre os sexos.

E minha reação foi automática e completamente natural: Legal, eu apoio isso. Sou um feminista! Afinal, sempre tive muitas amigas... Aliás, já fui muito taxado na escola por conta disso, mas o fato é que, eu não apenas sempre tive desejo por mulheres, mas sempre... Gostei de mulheres. E inclusive acho meio estranho o machista dito heterossexual que não suporta ficar em ambientes femininos e que sempre quer ter um homem junto pra poder conversar, dar risada, trocar socos carinhosos... (E gay sou eu!?).

Mas bem, desde essa época me considero um feminista, sempre apoiando direitos e deveres iguais para ambos os sexos, mesmo por que, não sendo um garoto heterossexual típico (homofóbico, sexista, misógino), eu sempre sofri muito com o machismo. Achava um absurdo ter que me policiar para ser visto como homem de verdade e, especialmente, não poder ter amigas (porque homem de verdade não tem amiga, tem alvo...). Durante a faculdade fiz alguns projetos de pesquisa sobre gênero e estudei bastante a questão da masculinidade (vou deixar umas referências pra quem se interessar lá embaixo). E esse é um tema que ainda gosto muito de discutir e acredito que guia meu dia-a-dia, me auxiliando a refletir sobre minhas atitudes e pondo em evidência os resquícios de machismo nos meus comportamentos.

Eventualmente parei de estudar gênero por que mudei de área de pesquisa, mas sempre continuei apoiando o movimento e eventualmente informando pessoas sobre o assunto, apontando atos machistas... Nada de ativismo, e sim coisas do cotidiano. Mas durante os últimos tempos, comecei a ver tantas críticas ao feminismo, tantos vídeos e textos, que me causaram certo estranhamento. Por que mesmo pessoas que eu respeito estavam dando declarações antifeministas e ao mesmo tempo, antissexistas... O que pra mim, é bizarro, porque sempre entendi o feminismo enquanto um movimento antissexista... Não?

  O Anti-Feminismo

Nessas declarações, vi muita gente reclamando de várias coisas, mas principalmente sobre o tratamento que o movimento feminista dava ao homem. Por este não se preocupar em defender também os seus direitos, e tentando almejar privilégios (o famoso: "Mulheres e crianças primeiro"). Falam do direito a se aposentar mais cedo que a mulher tem, da obrigatoriedade do homem em servir o exército, da licença paternidade ridícula que o homem usufrui, da lei Maria da Penha, que não protege homens em caso de violência doméstica, etc...

(E há algum tempo atrás até descobri que existia um movimento de homens que defendia os direitos de homens e achei, de início, muito interessante. Mas depois descobri que é, na verdade, um movimento extrema-direita que dá nojo pra cacete, então nem vou colocar esse dito movimento em pauta. Mas fica a dica pra quem não conhece, se ouvirem falar sobre "o contrário do feminismo", corram para as colinas!!!)

O fato é que, sim existem diferenças no tratamento de homens e mulheres. Existem sim, leis sexistas que acabam por oprimir ambos os sexos de formas diferentes. Sim, os homens também sofrem com o machismo, principalmente aqueles que são sensíveis ao assunto e percebem que toda e qualquer obrigação baseada no sexo é uma opressão. Mas os "privilégios" das mulheres que vemos atualmente não devem ser combatidos enquanto culpa das mulheres ou do feminismo, mas sim do machismo, por que as leis que regem a nossa sociedade foram criadas a partir do ponto de vista machista!! Isso tem que ficar bem claro, por que a maioria das pessoas não percebe que esse fenômeno não opera em nossa sociedade simplesmente na violência física contra a mulher, mas também está nos comportamentos simples. Quer exemplos? Abrir a porta do carro para que mulher entre, pagar por tudo (jantar, cinema, etc...) quando sai com uma mulher, sair brigando na rua pela honra de uma mulher. Discriminar mulheres que são sexualmente ativas. E tem mais um monte...

Então sim, eu sou feminista por que sou simplesmente contra tratar a mulher de forma diferente. É óbvio que sempre vamos tratar indivíduos de forma diferente, mas tratar um indivíduo de forma diferente baseando-se simplesmente em seu sexo é sexismo. Simples. E se a definição de feminismo é ainda aquela dada pelo dicionário há 14 anos, sou um feminista ferrenho.
Mas... As coisas sempre complicam...

            O Papel do Homem

Ontem um vlogueiro famoso e que eu gosto muito postou em sua página do Facebook a seguinte frase: "Alguma amiga feminista aí pode me explicar que merda é essa de falar que homem não pode discutir feminismo agora? Isso aí é coisa de umas doidas né, por favor? Não é o que vocês todas estão pensando, espero."

E a coisa toda deu merda. Até onde eu acompanhei tinham mais de 500 comentários [editado: mais de mil comentários...], uma discussão acalorada e opiniões de certas feministas que me fizeram realmente repensar minha posição... Opiniões como "homem não tem que reclamar de porra nenhuma, tem que ficar quieto e OUVIR" ou "Simplesmente por ser homem, você é o opressor, então não tem papel aliado ao oprimido" ou "Você não sabe fazer uma análise de classes, então fique quieto e vá estudar" (WTF), ou "Ser anti-sexista é sua obrigação e não tenho que te explicar nada" e outras coisas que já nem me lembro mais...

E ai comecei a pesquisar e repensar sobre o assunto... 

Acho que o principal ponto aqui é que existem vários movimentos feministas, sendo que alguns são mais radicais que outros, enquanto alguns querem criar espaços exclusivamente femininos, outros aceitam homens, e outros ainda querem as duas coisas. Uns aceitam que homens falem, mas outros acham que o simples fato do homem querer tomar a palavra um ato de machismo. Inclusive existem algumas frentes feministas que excluem qualquer um que não seja uma mulher "de verdade" (ou seja, fora trans!). 
Então me pergunto neste caos todo, qual é o papel do homem dentro de um movimento que, a priori, defende os direitos iguais entre os sexos?

Eu pessoalmente abomino essa ideia de que simplesmente pelo fato de eu ser homem, sou um opressor (eu, como indivíduo, sendo opressor de mulheres) e que por ter privilégios na sociedade, não posso ter voz alguma enquanto feminista... Na verdade, nem abomino... Simplesmente apago na minha memória. Por que essas opiniões são sexistas no mais puro sentido da palavra. Existem sim homens que não são sexistas e que estão sendo oprimidos simplesmente por conta de seus corpos... Ter um pênis não e minha escolha, eu nasci assim... Ser hetero não é minha escolha, eu nasci assim, agora, ser feminista é minha escolha de vida, então quando sou rejeitado por coisas que não escolhi e não sou reconhecido por minhas escolhas, a coisa toda fica muito injusta.

Lutar contra o machismo ou contra os homens? (ou, Dar tiro no próprio pé ajuda?)

Aqui vai a minha opinião de um movimento feminista ideal. Isso não é machismo, isso é opinião, e eu não estou entrando num grupo feminista e colocando meu ponto de vista em prática, não estou coagindo ninguém a fazer o que eu penso. Estou escrevendo no meu espaço, fazendo uso da minha liberdade de expressão. Está claro? Pois bem...

Um grupo que defenda direitos iguais entre os sexos deve sim dar mais atenção às mulheres, e sim, concordo que as decisões devem ser feitas por mulheres, guiando seus objetivos em prol de uma sociedade que seja mais igualitária na questão dos sexos, principalmente em nossa sociedade, em que o machismo é fortíssimo, sutil ou escancarado, e causa o sofrimento de muitos, principalmente de mulheres. Mas esse movimento deve valorizar muito a participação de homens, não por que "nós, homens" (como se fosse um grupo heterogêneo... cf  Schpun, 2004) somos especiais, mas por que somos os representantes sim do machismo, então nossa participação no movimento legitima a finalidade do movimento, de igualdade contra um inimigo em comum, o machismo.

Grupos que excluem homens do movimento feminista e que levantam a bandeira de que o inimigo é o homem, e não o machismo, estão sim dando tiros nos pés, por que, de forma contrária, legitimam a desigualdade de dentro pra fora... Argumentos como esses que citei acima (que fizeram no post do vlogueiro) apenas fazem com que eu me sinta marginalizado dentro de algo que defendo e acredito há mais de dez anos... E isso é dar tiro no pé sim! Não por que acho que a minha participação individual seja grande merda, mas se a cada frase dessas, o movimento perde N aliados, no final, o feminismo vai dar vários passos pra trás, e voltar a um momento em que eram marginais de verdade.

Quanto aos argumentos antifeministas que tenho ouvido, acho que são válidos até certo ponto, por que apesar das leis sexistas e privilégios e faltas de direitos e etc... Vejo sim, movimentos feministas que defendem direitos dos homens, como o exemplo da questão da licença paternidade e do projeto de lei nº293 de 2013 (criado por um órgão de defesa da mulher, vale mencionar) contra a violência de gênero, que não especifica sexo nenhum , nem do agressor e nem do agredido em contextos domésticos e, portanto, também protege o homem.

Outra coisa, acredito sim que o movimento feminista se compromete a lutar em questões que a diferenciem na sociedade e que, por conseguinte discriminem os homens, como a aposentadoria mais cedo ou o direito/dever de servir o exército (conheço muitas mulheres que sofrem pelo fato de não poderem servir o exército aos 18 anos). Então essas reclamações específicas, são enviesadas.

Só pra concluir, ainda me considero um feminista e acredito que o feminismo ainda tem muita luta pela frente. E esses grupos que não querem minha presença, simplesmente por conta do meu sexo biológico... Uma pena pra eles, cada um com sua luta.

Dicas de leitura e referências:

Badinter, Elisabeth. XY: sobre a identidade masculina. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1993.

Bourdieu, Pierre. A Dominação Masculina. Tradução. Maria Helena Kuhner. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003.

Nolasco, Sócrates. De Tarzan a Homer Simpson: banalização e violência masculina em sociedades contemporâneas ocidentais. Rio de Janeiro: Rocco, 2001.

Nolasco, Sócrates. O Mito da Masculinidade. Rio de Janeiro: Rocco, 1993.

Schpun, Mônica Raisa (org.). Masculinidades. Boitempo Editorial-Edunisc, São Paulo. 2004.


sábado, 9 de novembro de 2013

Revisitando o Aborto

Ao revisitar o tema do aborto, percebi que a discussão sobre esse tema quase sempre toma rumos completamente aleatórios e termina em questões outras. Então resolvi escrever este texto para que alguns pontos fiquem claros e, obviamente, para expressar minha opinião, eu juro que em próximos temas vou escrever um post por tema, escrever menos e tal... Mas sinceramente, é difícil abordar temas complexos com poucas palavras, tudo bem? Então aguentem firme. 
Já de início, devo expressar minha opinião, nunca fui a favor do aborto, aliás, nem contra o mesmo, mas o que isso realmente significa?

Temos a resposta... Mas qual a pergunta mesmo?

Na maioria das vezes em que o assunto aborto vem à tona, o que se ouve é: “Sou contra” ou “Sou a favor” como acabei de fazer acima, no entanto, as afirmativas "ser a favor ou contra" o aborto muitas vezes é fruto de uma pergunta estruturalmente destinada ao fracasso, ou do viés de quem pergunta.

Bom, mas se existe uma resposta, deve então haver uma pergunta, e essa pergunta, a meu ver, quando feita corretamente, deve ser formulada da seguinte forma: “Você é a favor ou contra que mulheres tenham o direito de decidir manter ou não uma gravidez?”. O problema é que a maioria das pessoas acha que quando se fala de aborto, a pergunta implícita é “Você gosta da ideia do aborto?” ou “Você é a favor de matar bebezinhos?”...   E essas perguntas são bem diferentes. 
E antes de mais nada, e pensando na pergunta correta, respondo que sim, eu sou a favor de que a mulher tenha o direito de decidir manter ou não uma gravidez.

Eu quero ter o direito de fazer o que eu quiser com o meu corpo, não quero fazer nada, mas quero ter o direito de fazer se quiser. Vamos pensar em um exemplo bobo, mas que carrega o mesmo sentido: Uma mulher "A" diz que quer fazer sexo com um homem "B", eles vão para um motel e lá, ela percebe que não quer mais transar. Então respondam a pergunta: “Você é a favor do direito de 'A' ir embora do motel sem fazer nada" ou “Já que 'A' disse que queria fazer sexo e foi para um motel, agora ela deve manter sua decisão prévia”? 
Ah, Fernando, mas o que tem isso a ver com o aborto?... Nada, tem a ver com decisões, e eu sou a favor de que as pessoas tenham o poder de decisão sobre o próprio corpo.

Argumentos Pró-vida (ou, por que no dos outros é refresco!?)

Alguns podem dizer “Mas é uma vida, e ninguém tem o direito de decidir tirar uma vida. Assassinato é crime...”. Bom, se é assim, devemos parar de comer carne... Na verdade, deveríamos parar de comer vegetais também, uma alface é um ser vivo... E quanto aos inseticidas? E os antibióticos (bactérias são seres vivos)? E os vermífugos? E quando seu cãozinho está sofrendo de uma doença sem cura?

E aí o argumento sempre é “Mas a vida humana é mais importante, a vida humana é sagrada...”.

Fonte: Feminismo sem Demagogia


Bom, primeiro, para discutir isso se faz necessário que criemos critérios bem estabelecidos sobre o valor da vida humana, por que o que não falta é gente que não quer que mulheres tenham o poder de decisão de abortar (por que a vida humana é importante), mas são a favor de que o Estado tenha o poder de decidir sobre a vida e a morte de criminosos... Bizarro!  Mas este é um caso a parte, e se você está dentro deste grupo, não vale a pena discutir... Pare de ler aqui mesmo...

Se não for este o caso, meu argumento em favor da descriminalização do aborto é que, um ser humano não é criado a partir da fecundação, e NÃO, não existe essa de que "Todos os cientistas dizem que a vida começa na fecundação!"... NÃO!! Isso é mentira!. E se estudarmos um pouco de embriologia, vamos observar que a posição mais defendida é a de que, até a décima semana não há nenhum indício de atividade cerebral,  portanto, não, o aborto não mata seres humanos. No máximo, o aborto antes da décima semana, pode ser comparado a matar um ser vivo mais ínfimo que um protozoário (que você mata sem culpa ao tomar um vermífugo)... Mas quem é contra a descriminalização do aborto, geralmente não quer nem pensar em embriologia, então... De que adianta?

 Questões práticas (ou, o que é ético?)

Mas, voltando a questões práticas, durante minhas pesquisas em fontes diversas sobre o tema, assisti a este vídeo que dá um exemplo ótimo sobre a questão do direito ao aborto:



Imagine que o Estado Brasileiro crie uma lei que criminaliza qualquer pessoa que não doe um órgão para crianças que estejam entre a vida e a morte. Então você está lá, numa boa, e tem uma criança que precisa de um rim para sobreviver. E por ventura descobrem que você é um doador viável (olha que legal!) sendo que, de acordo com a lei, se você não doar um rim, você vai ser preso, humilhado em praça pública pela moral vigente e taxado como um criminoso...
...E aí, você concorda com isso? Você acha que o Estado tem o direito de controlar o seu corpo para salvar uma vida? Afinal, é uma lei pró-vida. Deixa eu repetir a pergunta de forma mais enviesada (como geralmente fazem com a questão do aborto): "Você é a favor da criança morrer por conta do seu egoísmo"?
...não... "Não!? Que absurdo, tomara que 'pegue' um câncer..."

Aliás, pensando num argumento "pró-vida", vamos ampliar essa lei, afinal, temos que ser criteriosos: Quem tiver o fígado inteiro vai doar parte também... Pulmões, olhos, mãos, pernas....  Não importa, vamos doar tudo o que temos dobrado para salvar uma vida, afinal, a vida humana é sagrada... E essa será a LEI!...

Acho que não, né? Talvez eu tenha ido longe demais... Não posso obrigar, por lei, o que as pessoas devem fazer com seus corpos, mesmo que seja em prol de uma vida. Né?

Criminalizar é criar criminosos

Outro problema que percebo nessa questão é a culpabilização da mulher que engravida e não quer ter o filho, o que é um absurdo, por que... Bom, merdas acontecem. Surpresas, acidentes, nossa vida é cercada de coisas parecidas, mas o fato é que muitas pessoas acreditam que se uma mulher ficou grávida acidentalmente, ela é a culpada, e como punição deve ter o bebê, por que, afinal "coitado, não tem culpa". Eu (e todas as mulheres com as quais eu transei) sempre fui muito precavido, tive uma educação rígida quanto a isso e, principalmente... Tive sorte... Por que coisas assim podem acontecer em qualquer lugar, em qualquer momento... A não ser que você não faça sexo... Então, neste caso... Bom, boa sorte com isso também...

Outro argumento que a mulher tem que ouvir é aquele que diz que "uma mulher que opta pelo aborto nunca mais é a mesma, vive na culpa e na agonia de que matou um filho". Mas para mim isso parece um pouco óbvio de que a relação do sentimento ruim não se encontra na "culpa por ter matado um filho", mas sim na culpabilização dessa mulher pela sociedade e pela LEI!!!. Se eu me encontrasse em uma situação em que precisasse cometer um crime para sobreviver, é claro que viveria com esta culpa, mas isso não fosse crime, e se houvesse um aparato social, psicológico e médico, amparados pela lei, e que me auxiliasse neste momento de decisão (e da ação propriamente dita), eu conseguiria ultrapassar esta barreira, tendo uma vida normal e me sentindo integrado a sociedade.

Infância e pureza (ou, sobre as mentiras que contamos para nós mesmos...)
                                         

Outro ponto importante que influencia e muito nesta discussão é a sacralização da infância e da maternidade. E, infelizmente, devo inserir nesse momento a religião cristã como grande influencia em nossa sociedade (eu tentei não entrar nisso, mas não rolou...). Na época em que o conceito de infância estava começando a surgir (Philippe Aries, 1973), e que a sociedade começou a perceber que o período entre o nascimento e o começo da fala era de extrema importância para o indivíduo, também coincidia com um período em que a mortalidade infantil era gigantesca (nos séculos 17 na Europa e 18 no Brasil). E para explicar esta mortalidade, os padres diziam que essas crianças viravam anjinhos no céu, e que deus as queria perto dele e por isso não sobreviviam... Ou seja, além da sociedade perceber a importância da infância, a religião deu ares de sacralidade à mesma...
Durante a mesma época, e fruto e produtor deste mesmo pensamento (importância da infância e das criancinhas mortas), a maternidade, vista como o grande papel da mulher no mundo, torna-se também algo mais sagrado ainda, em que o amor e o cuidar de uma mãe torna-se algo inato e imprescindível.

No entanto, a relação entre mãe e filho é também algo construído, assim como a própria concepção de infância, ou seja, este amor sagrado e inato, é na verdade um “Amor Conquistado” (Elizabeth Badinter, 1985), e só existe da forma que enxergamos atualmente por conta de nossa cultura... É claro que entre os mamíferos, a relação entre mãe e filho é naturalmente importante, mas entre os seres humanos, criou-se uma sacralização de algo que, in natura, não é lá grandes coisas...

De acordo com Badinter: “Como então, não chegar à conclusão, mesmo que ela pareça cruel, de que o amor materno é apenas um sentimento e, como tal, essencialmente contingente? Esse sentimento pode existir ou não existir; ser e desaparecer. Mostrar-se forte ou frágil. Preferir um filho ou entregar-se a todos. Tudo depende da mãe, de sua história e da História. Não, não há uma lei universal nessa matéria, que escapa ao determinismo natural. O amor materno não é inerente às mulheres. É ‘adicional’” (p. 367).

Conclusão?

Bom, para finalizar, devo repetir que o importante nisso tudo, é preservar direitos, dar liberdade de escolha. Algumas pessoas acreditam que a doação de sangue e/ou órgãos vai contra os princípios divinos, mas isto não implica na criação de leis que proíbam ou obriguem este tipo de procedimento, então por que o aborto, visto como um procedimento médico no corpo de uma mulher, deveria sofrer tal criminalização?

*Essa é uma "repostagem" e reedição do post publicado no blog Joaninhas no Sotão.

Pra quem quiser ler:

ARIÉS, Philippe. História social da criança e da família. Rio de Janeiro: Guanabara, 1973.

BADINTER, Elisabeth. Um amor conquistado: O mito do amor materno. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1985.


quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Os animais e suas particularidades

Como mencionei antes, escrevi uma série de posts sobre o mesmo tema, e este (tomara) será o último sobre o assunto. Só pra resumir, até aqui eu apresentei alguns pontos: 

1- Ninguém lê os artigos publicados sobre as pesquisas feitas com animais. Pelo menos, ninguém que não trabalhe com o mesmo objeto científico ou com os mesmos "sujeitos".
2- Como encontrar um artigo científico desses, do modo mais fácil possível. Além disso, apontei para a falácia da existência de métodos alternativos na pesquisa com animais.
3- Mostrei como a parcialidade existente em alguns meios de comunicação é fruto de ignorância ou má fé. Sei que nada está livre de viés, mas o nível deste viés é preocupante.

Só pra adicionar uma coisa nestes pontos, eu não sou um especialista neste tipo de pesquisa (Os animais com os quais eu faço pesquisa são da espécie humana...). Então não sou um leitor assíduo dessa literatura, mas sim, sou cientificamente alfabetizado o bastante para pesquisar, ler e analisar a literatura. Tanto é que quando minha cachorra teve que passar por um procedimento cirúrgico, fui pesquisar os artigos científicos sobre o assunto. E me informei sobre todos os riscos e procedimentos necessários. Consegui me informar e isso fez muita diferença (graças às pesquisas com outros animais...)

Bom, pra finalizar este assunto de uma vez por todas, queria falar sobre ciência e especialmente a pesquisa experimental. Para tanto, entrei em contato com muitas fontes, blogs, vlogs, textos mais acadêmicos, textos de opinião, etc... E compilei isso em alguns pontos importantes. Algumas dessas fontes que achei mais interessantes foram as dos biólogos Yuri Grecco e Paulo Miranda. Então vou me pautar muito nos pontos que foram abordados nessas fontes. 
"Mas Fernando, estas são as fontes científicas que você tanto preza"? 
Não, mas são didáticas, e meu intuito neste post é ser didático. Se quiser ler meu texto sobre artigos científicos, vá para meu outro post.

Controle de Variáveis
Primeiramente, a pesquisa experimental trata principalmente de variáveis. Mas o que é isso? Então, uma variável é algo que pode ser medido, podendo ter limites (como por exemplo nossa idade, que vai de 0 a, possivelmente, por volta dos 90 anos...), ou não necessariamente (como a quantidade de habitantes em uma cidade). 

Muitas pesquisas se focam na medição de uma variável, como por exemplo uma pesquisa que pretende investigar o número de casos de câncer de próstata no mundo. Não existe uma relação entre variáveis nesta proposta, então não chamamos este tipo de experimental (tudo isso, superficialmente, ok?). Agora, em uma pesquisa experimental, o foco da pesquisa sempre é a relação entre variáveis (mais de uma, pelo menos), podendo ser uma relação causal ou não, mas essa é outra história. 

Então, por exemplo, se eu quiser investigar qual a relação entre violência entre crianças e o hábito de jogar jogos de vídeo game violentos, eu tenho que necessariamente, 1) identificar quais as variáveis de interesse e, principalmente, 2) encontrar um meio de medir essas variáveis. Então, nesse estudo imaginário eu decido que a variável violência entre crianças pode ser caracterizado pelo número de atos violentos físicos que uma criança tem com outra pessoa, e a outra variável, o número de horas que a mesma criança passa jogando jogos de vídeo-game violentos. Legal, depois de cortar as arestas, e arrumar tudo certinho, já tenho minhas variáveis e agora só preciso definir meu método de avaliação, de análise de dados, selecionar os participantes (e o numero de participantes), etc... (Sei que é um monte de coisa, mas as variáveis eu já tenho). 

Mas aí alguém pode dizer: E as outras variáveis que eu não estou olhando? E se a criança é espancada pelo pai e por isso é violenta? E se um dos participantes tem um diagnóstico de TDAH e toma medicamentos? E se... etc, etc, etc...  
E eu lhe responderia: Perfeito! É isso mesmo. Como controlar todas as variáveis estranhas? É quase sempre impossível, mas existem meios, usando testes, não incluindo crianças com diagnósticos, avaliando as práticas parentais, etc... E nesse tipo de pesquisa, com esse tema e nessa área (que seria talvez um foco da psicologia experimental), o efeito de algumas variáveis estranhas são contrapostas por replicações do mesmo estudo, aumento do numero da população, pesquisas transculturais, métodos de sujeito único, etc...

Mas e na área toxicológica??
E se eu quiser investigar a dose máxima de um analgésico por quilo,  por dia, sem que ocorram efeitos adversos danosos ao organismo? E se eu quiser estudar os efeitos de um novo procedimento na cura de tumores no cérebro?
Ai a coisa complica... Não posso me dar ao luxo de ignorar variáveis estranhas, não posso colocar em risco a vida e a saúde de seres humanos e depois fazer replicações e aumento da população estudada. 

Bom, então é só pela ganância e megalomania dos seres humanos que praticamos a tortura e a escravidão animal? Só por que não podemos colocar seres humanos em risco?

Não, sua anta (sem ofensa as antas). É justamente por conta da importância do controle de variáveis.
Se eu tenho uma linhagem de coelhos que eu conheço o genoma, que eu sei que não tem histórico de outras doenças, que eu cuido, trato, mantenho em ambiente controlado, limpo, climatizado, longe de predadores e, principalmente, conheço muito bem seu comportamento; essas possíveis variáveis estão todas estão sob controle! Simples assim. E é exatamente por isso que termos como tortura e escravidão são puro antropomorfismo (e burrice). Os animais estão lá por que estão lá... Não sofrem de depressão por suas escolhas de vida... Não sofrem pela falta da coelha amada... Não sofrem pela homofobia ou racismo... 
Ou seja, todas as variáveis que poderiam influenciar na pesquisa com humanos, na pesquisa com estes animais, estão controladas.

Por este motivo é que não é qualquer bicho que é usado em pesquisa. Muitos estudos preferem (quando se pode escolher) adotar animais que vivem pouco naturalmente, tem um desenvolvimento rápido, são muito bem conhecidos e sofrem com um menor número de variáveis estranhas, como o estresse... O que desmente comentários sobre o uso abusivo de cachorros e gatos em pesquisas. Além disso, a questão do controle de variáveis também demonstra que os cientistas não apenas se preocupam, mas devem se preocupar com o bem estar de suas cobaias, por que uma coisa mínima, como o jeito de pegar o bicho, pode causar dor ou estresse e influenciar nos dados da pesquisa.

Baseado no que já escrevi até aqui só queria comentar mais três aspectos criticados e que sempre pipocam da boca dos desinformados. Como:

"Por que não faz a pesquisa com criminosos, que estes sim deveriam sofrer, sabe, pedófilos, assassinos... E não os animais"
Puramente por conta do controle de variáveis. Se fossemos usar seres humanos como cobaias de estudos científicos de pesquisa básica, principalmente de cosméticos, toxicológicos, médicos, etc... Precisaríamos criar uma linhagem de seres humanos idênticos, com conhecimento geral de sua procedência, histórico de doenças, predições genéticas, etc, etc, etc... E isso não seria muito legal, mesmo por que seres humanos são muito "sentimentalóides", além do que, vivem muito e têm um desenvolvimento muito lento [modo ironia off].... Pessoas comuns como eu e você apresentam milhões de variáveis que não podem ser controladas neste tipo de pesquisa. Além disso, quem fala esse tipo de coisa, acha que pesquisa é tortura e morte, e que essas pessoas deveriam, portanto, sofrer e morrer... O que nos leva a outras discussões e possivelmente, psiquiatras...

"Porque não usam as alternativas que já existem. E sim, existem, porque todo ativista em defesa de animais sabe disso"
Bom, acho que já demonstrei como funciona uma dessas "alternativas" no meu segundo post. Mas só pra deixar claro. As alternativas que existem não substituem quase que nenhuma pesquisa com animais. Uma cultura de células é tanto um organismo, quanto uma jabuticabeira é uma cômoda... E uma simulação de computador é tanto um organismo quanto Tomb Raider é um manual de alpinismo.
Mas fiquem felizes, existem alternativas que diminuem o número de cobaias em cada estudo... E, pra mim, isso já é bem legal.

"Eu só uso produtos com o selo "Cruelty Free". Por que quero fazer a diferença..."
Ah, produtos livres de crueldade... hahaha. Bom, primeiro e menos importante: Associar crueldade com pesquisa é uma grande falácia... Mas, como eu já disse antes, se você acha que colocar um bichinho que provavelmente seria comido ou morto a vassouradas (em ambiente natural), em um espaço grande, climatizado, com comida, água, tratamento veterinário periódico, etc... É crueldade... Bom, é uma questão outra, que não quero discutir.
Mais importante é: Aquele produto que você compra pode até dizer que ELE não fez pesquisas com animais, mas este produto já foi testado por outra empresa (e sim, com animais) ou a empresa que gosta de vender o selinho do "CF" manda uma outra empresa fazer a pesquisa (e sim, novamente, com animais), com os devidos contratos de confidencialidade... Então me desculpem... Mas o "Cruelty Free" é tão valido pra mim quanto não comer no MacDonald's pra não fomentar o capitalismo...

Bom, é isso. Terminei minha série de posts sobre pesquisas com animais.
Quem quiser ler mais sobre o assunto, e especialmente sobre os cosméticos, recomendo este texto, é bem completo e interessante.

Abraço e até mais.  

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

O que dizem por ai

Continuando a série de posts sobre o assunto Pesquisa com sujeitos animais não-humanos, decidi comentar e reclamar um pouco sobre um dos artigos que li em uma revista popular. 

O Texto

Bom, o artigo que li (e que praticamente me jogou nesse mundo de escrever pra pessoas desconhecidas) foi publicado na revista "Pragmatismo Político", com o título "Instituto Royal: Como é e como funciona". E apesar de ser um jornal de esquerda e pode não representar o referencial político geral, o artigo não apenas representa a visão de muitas pessoas, mas endossa essa visão de forma explícita, então tomei o artigo como norma para escrever esse post.

O texto começa com os dizeres "Professor aposentado da Unicamp Carlos Alberto Lungarzo tenta desvendar o que faz o instituto, quem são seus clientes, que experimentos fazia com os beagles resgatados e como garantir o avanço ético da ciência"...
E aí, o que imaginamos? Eu, pelo menos, achei que era um cara fodástico na área de pesquisa com animais-não-humanos e que estava fazendo uma grande declaração, com evidências, mesmo que pessoais, sobre o Instituto Royal . Mas aí, depois de ler o texto todo (e nossa, como ele extrapola o objetivo vendido no título), me deparo com a mini-biografia do autor:

"Carlos Alberto Lungarzo é matemático [...]É professor aposentado da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) [...] Tem escritos vários livros e artigos sobre lógica, estatística e computação quântica"...

E ai eu me pergunto. Que espécie de autoridade no assunto é este sujeito? Não o conheço, não sei se é gente boa, se é bem visto em sua própria área de atuação, etc, etc, etc... Mas sei de uma coisa: Ele não construiu sua carreira lendo artigos científicos sobre estudos com animais... Simples assim. Pode ser que ele seja uma autoridade e que essa literatura é seu hobbie secreto? Claro... Mas eu duvido muito... É mais fácil acreditar que ele é apenas mais um defensor dos direitos dos animais, mas que tem uma carreira intelectual e, por isso, goza de certo respeito ao falar de qualquer coisa...

Bom, vou destacar certos pontos do texto. Não quero discutir sobre os males ou os benefícios do Instituto, por que simplesmente não quero entrar nesta discussão. O Instituto é "real"? Segue as leis? Só quer dinheiro?... Isso tudo implica em uma discussão de um milhão de posts, e sinceramente, já estou me excedendo com 4 textos sobre o assunto, e quero me prender ao tema que me propus a escrever: Pesquisa com animais.




Pontos e Contrapontos

O texto começa com: "Ativistas dos direitos animais, desarmados, entraram num bunker de tortura de bichos protegido por guardas, para liberar 178 beagles"...

Sério? Isso é um artigo jornalístico ou pregação? Eu tenho acompanhado algumas discussões sobre o assunto e todos aqueles textos ou vídeos feitos por ativistas usam termos como tortura, escravidão, abolicionismo, holocausto...  Sério mesmo? Pra mim isso é antropomorfismo, conhecem? Dar atributos humanos a coisas, animais, deuses, etc... E esse comportamento é, cientificamente, encontrado em crianças nas primeiras fases do desenvolvimento... Na minha humilde opinião, ele quer fazer poesia pra tocar os corações dos leitores. E todo argumento que tente sensibilizar, pra mim, é questionável. Sempre. 

Depois de meter o pau na Instituição (que quero deixar de lado em boa parte), ele fala sobre o repúdio de cientistas aos defensores dos animais...
"Muitos defensores de animais, especialmente líderes, aconselham calma e mesura aos seus colegas em suas ações, porque a comunidade científica está quase totalmente contra os ativistas"
Quase totalmente? A pergunta certa não é por que estão quase totalmente, e sim, por que não estão totalmente contra essas ações.

Em 2008, ativistas invadiram um laboratório do Instituto de biociências da USP, quebraram vários equipamentos e destruíram materiais de pesquisa (inclusive equipamentos caros, comprados com dinheiro público) e, no mínimo, como produto, destruíram os trabalhos científicos de dezenas de alunos. E um detalhe, o avanço científico é primordial no avanço de um país e de uma sociedade. E não só avanço econômico,  mas de qualidade de vida. Ou você acha que hoje em dia vivemos o dobro de anos dos nossos bisavós por glória divina?

Ai ele continua e fala sobre o apoio absurdo dos cientistas à pesquisas com animais:

"[...] se a ciência está fundada sobre o empirismo e o racionalismo em ação conjunta, como é possível que a grande massa dos cientistas esteja equivocada? Esse é o ponto.
Os cientistas não estão equivocados. Mas nós devemos diferenciar entreracionalidade [sic] científica e racionalidade ética. Quando estas estiverem integradas o mundo será uma maravilha, agora podemos reconhecer essa integração nas obras de algumas poucas figuras brilhantes da história da ciência do século XX como Bertrand Russell, Linus Pauling, Noam Chomsky…"

Bom, primeiramente, dentre estes, pelo que eu saiba, só Pauling foi um cientista... Russell era filósofo e Chomsky é um político.
Aqui é óbvio que o senhor Lungarzo deseja a volta de uma época perdida, em que a relação entre a filosofia e a ciência era um casamento perfeito, porque hoje em dia cientistas já não sabem mais o que é ética, enquanto os grandes "cientistas" de antigamente pensavam sobre o assunto... Bom, acho que ele esta sendo saudosista, mas esse é assunto para outro post. 

O fato é que, nenhum cientista gosta de matar suas cobaias, enquanto que tortura... Tortura de verdade (violência pura com fim em si mesmo), não existe, por simples questão de controle de variáveis (e pra quem não sabe sobre controle de variáveis  vou descrever isso no próximo post)... Mas como tem muita gente ai dizendo que colocar o bicho em uma gaiola (mesmo que seja climatizada, espaçosa, limpinha, etc...) é tortura, e que os bichos também são gente e que devem ser também sujeitos aos direitos humanos, de ir e vir e blá, blá, blá... É melhor eu parar de escrever sobre esse ponto...

Bom, ai ele volta a falar do Instituto Royal, e seu principal argumento pra desqualificar a suposta spokeswoman do Instituto (uma tal de Silvia Ortiz) é de que ela não tem currículo lattes... Bom, desculpa, eu  usei esse argumento contra várias pessoas que quiseram se passar por pesquisadores (vide Malafaia), mas a mulher esta defendendo sua empresa, e não sua produção acadêmica... Então acho fraco o argumento.

Ai ele conta sobre o caso do Norplant, que foi testado em humanos e deixou várias mulheres do terceiro mundo estéreis... Bom, pra mim, esse argumento é um tiro no pé. Por que se fosse testado em animais, em ambiente controlado, conforme a lei... Não teríamos tido esse problema. E sim, prefiro que porcos fiquem estéreis do que mulheres humanas sofram deste mal... Me processem.
Isso me lembra o caso da talidomida, que foi pouco testada em fase pré-clinica (com animais) e foi logo lançado para o publico... E deu merda. Por que? Por que faltaram estudos com animais!...
O argumento paranoico do Follow the money (algo como, veja quem ganha com isso, que você descobrirá o verdadeiro culpado) é muitas vezes funcional. O problema é que ele serve para os dois lados da discussão. Eu, sinceramente, acho que a obrigação das empresas testarem seus produtos antes de lançar no mercado é um obstáculo para a empresa, além de serem custosos. Se for só uma questão de grana, seria mais fácil fazer menos pesquisa e vender logo o troço. Por que demanda sempre tem...

Aí ele segue para o: "É óbvio que o Royal e seu staff estão tentando se esconder, e isso parece ter sido sua atitude desde o começo. As hipóteses sobre as causas deste mistério podem ser várias, mas todas são da mesma índole."
Bom, até onde eu saiba, essas empresas e inclusive funcionários, tem a obrigação de manter sigilo sobre suas práticas, mas não necessariamente para encobrir crimes, e sim para evitar espionagem industrial... Poxa, isso acontece até na academia. Vira e mexe um pesquisador descobre o que outro esta fazendo, vai lá, faz a mesma coisa, publica antes e ganha a fama...  Quando se trata de inovações, isso é bem normal.
Outra coisa, imagine que uma empresa queira vender seus produtos com o lindo selo "Cruelty Free" (que pra mim já é uma frase babaca em si, mas deixemos de lado). Ela assina um contrato com um Instituto alheio pra fazer a pesquisa com aquele produto, e no contrato existem clausulas de confidencialidade... Então obviamente o staff vai se esconder se começarem a fazer perguntas...
Pode ser que eles estavam comendo beagles no café da manhã? Depois se banhavam em sangue de coelho pela tarde e a noite faziam orgias zoofílicas? Claro! Mas além de eu duvidar muito, o que me deixa fudido é todo o maniqueísmo da coisa toda. "O staff não quer declarar nada!? Então eles são satanistas!"...  tsc tsc tsc

Bom, e no final, ele endossa o mito dos métodos alternativos serem renegados pela ganância dos laboratórios:  
"[...]a realização de numerosos experimentos cruéis onde se mutilam, esquartejam, cegam, queimam e matam milhares de animais, diminui as despesas dos laboratórios, pois é menos caro que experimentos In silico (simulação com computador) ou in vitro (ensaio com culturas)"

Desculpa, mas com relação aos experimentos cruéis, matanças, cegueiras e tudo o mais... Acho que todos devemos ler mais artigos científicos e realmente avaliar o que acontece, ok? Então nem vou comentar, leiam meu post anterior. Da mesma forma quanto aos métodos alternativos, que existem, mas não para tudo. Existem métodos alternativos, eu chuto, para cerca de 15% das pesquisas que antes demandavam animais, de resto, as alternativas apenas podem diminuir o número de animais sendo usados (como exemplo, a pesquisa que descrevi também no post anterior).

Agora, a questão do "Follow the money" novamente, é embaraçoso. Será que as pessoas sabem o quanto custa manter animais em condições estáveis e de qualidade. Alimentação, climatização, eliminação de estresses causados por um milhão de variáveis, doenças, tudo! E o espaço que demanda um lugar como esse? Alguém conhece biotérios de faculdades? Pelo menos toda faculdade que conheço tem problemas sérios de espaço. E os funcionários qualificados e pagos para manter esses biotérios? Isso tudo gera custos.

Então, até que alguém me mostre em fontes confiáveis que um método alternativo é mais caro que a pesquisa com animais, eu não vou cair nesse argumento. 

Depois ele continua falando sobre os seguimentos do movimento em defesa dos animais e tal... E isso não cabe comentar aqui.

Bom, é isso.
Abraços e até mais.

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Busca Google Acadêmico: Câncer Coelhos

Bom, queria dar um respaldo ao meu último post, afinal, não é por que vocês não devem acreditar em mim que eu seja mentiroso... 

Então, continuando meu épico sobre pesquisas científicas e animais, gostaria de introduzir um tema no qual sou um grande especialista: Pesquisas sobre câncer utilizando-se de coelhos...

Como sugeri no post anterior, entrei no google acadêmico e digitei: Câncer Coelhos
E peguei o primeiro artigo que achei (vai la conferir, eu posso estar mentido)... E agora queria destrinchá-lo na medida do possível. No final acabei escrevendo um texto meio grande para um post, e sei que a maioria das pessoas não gosta de ler mais de dois parágrafos, então vou tentar resumir, espero que mantenham a atenção. 

Bom, eu li esse artigo completamente aleatório, que não faz parte da minha pesquisa e nunca vai me ajudar em absolutamente nada (acredito eu), e posso afirmar com absoluta certeza, de que compreendi cerca de 40% dele... Mas acho que é o bastante para provar um ponto. Ninguém quer ler essas pesquisas a não ser que esteja realmente pesquisando isso. Discutir um tema é fácil, ler as fontes, aí é que está o problema.

Vamos lá, o propósito aqui é apresentar o artigo e mostrar parte do que eu entendi... Ok? E como eu sempre digo, não acreditem em mim... O google é uma tecnologia simples, basta ser alfabetizado e saber usar a internet (e se você está lendo isso, aqui, já passou no teste!)...

A pesquisa que encontrei se chama "Resposta radiodosimétrica de implantes de sementes de biovidros radioativos no cérebro de coelhos". O que entender disso? Vai saber... Mas é pra isso que fomos alfabetizados...

O Artigo foi publicado em 2007 na Revista Matéria (no volume 12, número 3, entre as páginas 480-486). Os autores são Costa e Campos, do programa de pós-graduação em Ciências e Técnicas Nucleares, da UFMG. Para os parâmetros acadêmicos já não é um estudo muito atual, mas para os propósitos do post, está mais que perfeito.

O artigo

O artigo científico, para quem não conhece, começa com a introdução, onde será apresentado o tema da pesquisa, as lacunas do conhecimento atual e o objetivo da pesquisa que foi realizada... Bem, vamos então ao início: 
Os autores começam escrevendo que o câncer é uma "coisa ruim" (em outras palavras, obviamente) e que no Brasil, em 2006, tivemos 472.050 novos casos de câncer, sendo este o segundo maior caso de morte no país. Aí começam a introduzir o tema específico deles, o tumor cerebral. Sobre estes tipos de tumor, os dados estatísticos são escassos, mas que em 1990, foram responsáveis por 2% dos casos de morte por câncer (em todo o mundo).



Quanto às formas de tratamento, Costa e Campos afirmam que existe a intervenção cirúrgica, a imunoterapia, a quimioterapia e a radioterapia (sempre com referencias a outros estudos que explicam melhor esses tratamentos). O alvo deles, pelo que entendi é a braquioterapia, em que implantes de material radiotivo são "incorporados no leito do tumor". Pelo que entendi, nessa técnica, é colocado o material radiotivo dentro da cabeça do sujeito, o que garante um efeito mais direcionado sobre o tumor... (Mas não acreditem em mim, sou completamente ignorante no assunto...). E pelo que entendi do título essas são as tais "sementes", que podem ser temporárias ou permanentes. O problema deste procedimento é que os implantes são caros e podem acarretar em fibroses (o que é ruim, acredite...). MAS, o grupo de pesquisa deles (NRI/CNPQ) desenvolveu um novo material para solucionar estes problemas, são materiais que eles chamam de "biovidros", que são "bioativos", e se degradam com o tempo. 

E aí, chegamos ao objetivo da pesquisa (fica a dica: é sempre o último parágrafo da introdução...) que é: Avaliar as doses dos implantes de biovidros em modelo animal, com o intuito de avaliar a viabilidade desta alternativa no tratamento de tumores cerebrais. 

Ok até aqui, então vamos para os materiais e os métodos utilizados nas pesquisas. Por que isso é importante? Para explicar para outros cientistas da área o que foi feito e, assim, verificarem a validade do estudo e garantirem a replicabilidade do mesmo (ou seja, como fazer o mesmo estudo em outro laboratório, para validar ou refutar os dados que apresentam).
Bom, eles usaram o radioemissor Samário-153 (eu não conheço nada disso, mas estou aprendendo) e dão a justificativa para o uso deste material, descrevendo suas características principais. Já para o implante, foram escolhidas as sementes "biocerâmicas" (é diferente de biovidro? Não sei, tem que pesquisar mais, mas fica só a dica) compostas de.... Um monte de coisa que desconheço e, sinceramente, nem vale a pena entender para colocar aqui... Mas são bem pequenininhos... O que é importante né? Pra ninguém pensar que é uma bola de golfe ou coisa que o valha...

Quanto ao método, eles utilizam a técnica de simulação de Monte Carlo, que,  pelo que entendi em um a pesquisa porca no google, é um método de simulação de efeitos em uma vasta gama de variáveis, ou seja, ela foi utilizada para tentar mostrar todos os possíveis efeitos da variável que estão estudando. Segundo as referências que os autores dão, ela é utilizada na área deles para determinar exatamente as doses absorvidas em órgãos e tecidos em diversos tipos de procedimentos de braquioterapia. E eles observam isso por meio de tomografias computadorizadas.

E aí, só aí, que começa a parte onde a galera pira. Foi utilizado um (01!) coelho da raça Nova Zelândia, macho, pesando 2,5 Kg. Pelo que entendi o tumor foi induzido nesta cobaia para testar as sementes radioativas no tratamento deste tumor. E ai vem a parte em que ninguém deve acreditar em mim (e eu acredito porque eu acho que estou certo e se não achasse não estaria escrevendo...). Com a simulação adotada eles teriam todos os possíveis resultados no tratamento, ou seja, fazem o teste no animal e, além disso, fazem a simulação de tudo o que poderia acontecer (além daquilo que realmente aconteceu, é claro...) com este animal pelo modelo computacional. Ok até aqui?

Coelho da espécie Nova Zelândia. Só pra esclarecer, não foi esse o utilizado na pesquisa. Achei a foto na net. Este provavelmente já foi comid... Digo... Teve uma vida feliz e alegre e morreu dormindo em sua poltrona preferida... 

Bom, ai eu cheguei nos resultados e fiz o que sempre faço quando leio um artigo do qual não tenho a menor base para entender... Eu pulei... É, isso mesmo. Me processem.

Mas com esses resultados, os autores concluem que a simulação foi satisfatória para embasar suas hipóteses, de que os implantes apresentaram os efeitos desejados. No entanto, foram poucos implantes, e assim, incapazes de tratar um tumor (e isso eu acredito que eles já sabiam, mas essa é uma pesquisa inicial, e como sempre, as pesquisas começam do menor para o maior). E que nas próximas pesquisas eles vão tomar outras providências metodológicas que se aproximem mais daquilo que é necessário para o tratamento de tumores (mais implantes, menor espaço entre eles, etc...)

Não quero me alongar muito na minha discussão sobre o assunto e sobre o artigo. Meu intuito aqui é: leiam pesquisas científicas que se utilizam de modelos animais. Eu posso ter sido tendencioso e na minha busca coloquei câncer (que é uma doença apavorante para todos nós) e Coelhos (que, pra mim, causam menos furor que cães, por exemplo), mas façam suas próprias pesquisas. Busquem por: Cosméticos Cães; ou então: Analgésicos Gatos; ou: Pneumonia Primatas... Sei lá. Se possível, façam todas as buscas, mas leiam os estudos, e não apenas o que os outros dizem sobre a pesquisa com animais, não acreditem em tudo o que falam por aí (e nem por aqui). E outra coisa, não pensem que estudos com animais são apenas médicos, existem muitas pesquisas em animais sobre comportamento, uma área que entendo mais e pretendo discutir em outro momento.

Só pra finalizar, acho que essa pesquisa serve pelo menos para quebrar o mito do: Existem métodos alternativos para o estudo com animais. Como viram, eles usaram uma simulação computacional, mas isso NÃO substitui o uso do modelo animal, e sim, no máximo, diminui o número de cobaias, o que é fantástico, mas ainda esta muito longe do que muitas pessoas querem acreditar...

Abraços e até o próximo.

Referência: Costa, I. T. & Campos, T. P. R. (2007) Resposta radiodosimétrica de implantes de sementes de biovidros radioativos no cérebro de coelhos. Revista Matéria, v. 12, n. 3, pp. 480 – 486

domingo, 3 de novembro de 2013

Pesquisa científica e os animais

Apesar de tantos outros motivos que me fizeram criar este espaço, acho que o mais importante foi um assunto do qual gostaria muito de escrever sobre. O famigerado "Caso dos beagles e dos testes em animais". É, eu sei, já está velho o tema e todo mundo já escreveu e falou e gravou tudo o que poderia ser desenvolvido sobre o tema. Infelizmente, não é o suficiente em um caso desta magnitude. Não que tenha sido um grande evento, mas foi um evento que tomou proporções gigantescas aqui no Brasil e, por isso, ainda vale a pena falar sobre o assunto.

Porém, tenho um enorme "mas" antes de entrar no assunto. Então, pretendo fazer uma série de, no máximo, 4 posts sobre o assunto (achei melhor do que escrever um post de 500 parágrafos e ninguém ler). Este aqui falando sobre como o assunto geralmente é abordado, e o por quê disso. O segundo, apresentando uma pesquisa de verdade, um artigo científico de uma pesquisa que se utiliza de animais. No terceiro, faço uma crítica e respondo a um artigo jornalístico sobre o assunto, e no último, pretendo tecer a minha opinião e concluir os posts... Ok?

Pesquisa X Animais

Bom, muitas pessoas falam apaixonadamente sobre o tema "pesquisas com animais", mas a grande maioria só acha que o tema merece atenção pela parte dos "animais", enquanto o tema da "pesquisa" fica completamente em segundo plano... Por que será?

Pesquisa científica

Quem lê sobre pesquisas científicas? Quem é que, periodicamente, lê um artigo científico, seja ele nacional ou internacional? Seja ele publicado em uma revista A1 ou A2 (Boas!) ou em uma B5 ou até mesmo C (Ruins!)?...  Sério. Quem lê?
Sei muito bem que muitos profissionais com diploma universitário não o fazem. Muitos médicos, inclusive, que, na minha modéstia opinião, deveriam ter a obrigação de se atualizarem quanto às pesquisas mais atuais em suas áreas não o fazem (Preferem ouvir todas as informações "necessárias" dos representantes comerciais das empresas farmacêuticas).

E olha que os artigos publicados em revistas nacionais são completamente acessíveis, diferentemente da maioria das revistas internacionais...

Infelizmente, conheço até professores universitários que não leem um artigo científico há mais de dez anos...
Eu mesmo, preferiria muito mais ler a série "Crepúsculo" a ter que fazer uma revisão sistemática de artigos científicos de uma área científica específica (Ok, exagerei...  Prefiro ler.... Sei lá, o "50 tons de cinza", que pelo menos é um livro só e é pornográfico...), mas fazer o que? Eu preciso, eu tenho e, obviamente, eu prefiro percorrer o "caminho das pedras" a ser um completo incompetente. Mas isso não muda o fato de que o estilo literário científico é um porre, do início ao fim. E isso decorre do fato de que o propósito do artigo científico não é o de entreter seu leitor, mas sim de divulgar métodos, resultados e idéias, sejam inovações ou replicações/refutações do que já foi encontrado antes.

Mas ler artigos científicos não é o ponto central aqui...  Esse é só um dos pontos. Gostaria de ir mais longe. Quem sabe o que a ciência faz? Quem sabe como é o trabalho de um cientista? Por um acaso, na hora de "escolher uma profissão", alguém recebeu a visita de um cientista para compartilhar de suas experiências e divulgar os prós e contras da profissão? Eu acho que não... Eu não passei por isso.

Pelo que já li a respeito (e não tenho referências, então é melhor nem acreditar), cerca de 11% da população no Brasil tem um diploma universitário. O governo diz que atualmente este índice é de quase 30%, eu não acredito, mas que seja então 30%. Nesta linha, se eu fosse dar um palpite bastante ridículo, aposto que, destes 30%, apenas 15% decide fazer uma pós-graduação estricto sensu, um dos únicos caminhos (senão o único) que pode levar alguém a fazer ciência no Brasil... E destes 15%, apenas 7% estão em uma área que faz pesquisas experimentais, então pode por um acaso chegar a fazer pesquisas com animais e, assim, entrar em contato com a literatura científica da área.

Então, fazendo as contas...  Acho que o meu enorme "mas" lá do começo, é maior do que eu pensava...

Só pra concluir antes de escrever sobre a pesquisa com animais, faço a pergunta: Será que a discussão é justa? Será que não precisamos de um embasamento melhor para tentar entender o problema? 

Eu entendo boa parte das justificativas daqueles que são contra a pesquisa com animais. Eu mesmo acredito que, em alguns casos, já não é mais necessário o uso de modelos vivos, enquanto modelos computacionais são muito mais adequados... E depois escrevo mais sobre isso, mas antes disso, segue a dica: 

Entre no Google Acadêmico e insira um nome de uma doença e o nome de um animal... E depois selecione um arquivo em pdf, provavelmente será um artigo científico nacional (se não for, tente de novo...)

Eu tentei:   Câncer Coelhos
E aprendi bastante...   

Abraço e até mais.

Apresentação

Olá, meu nome é Fernando, e por favor, não acreditem em mim...

Neste post inicial apenas quero apresentar o site, minhas intenções com o mesmo e, principalmente, explicar o título estúpido que escolhi...

Sempre quis criar outro blog, com informações, como um meio de divulgação da minha opinião e, principalmente dos conteúdos que aprendi durante minha formação acadêmica. No entanto, como cientista, acredito que a divulgação desses tipos de conteúdo nesta "mídia de massa", principalmente para leigos, apresenta dois grandes problemas: 

1- Energia: Se você trabalha com ciência, se você é um cientista (o que, no Brasil, significa que você é um pós-graduando), existe um grande dispêndio de energia nas suas próprias pesquisas, que geralmente são muito específicas, ao ponto em que, mesmo o seu amigo mais próximo, não tem a menor vontade de entender (é o que eu sempre digo pra quem esta escrevendo uma monografia ou dissertação: "Não se preocupe, nem sua mãe vai ler isso..."). Sendo que dividir a energia entre pesquisa e divulgação científica torna-se quase que insuportável, por que, queira ou não, em certo momento este cientista blogueiro (ou vlogueiro) vai ter que discorrer sobre assuntos que não estuda há muito tempo, ou até mesmo, nunca estudou a fundo, o que vai gerar uma demanda de pesquisa outra além daquela que faz parte de sua carreira acadêmica.

2- Opinião não é ciência: Gerado pelo primeiro problema, se o blogueiro (vlogueiro) cientista tentar dar conta de todos os assuntos que gostaria de opinar ou que, opina por demanda alheia, ele vai acabar, inevitavelmente, apresentando opiniões. E opinião não é ciência! Simples assim. Eu realmente sou muito fã de várias divulgadores da ciência e realmente acredito que se a ciência não tem uma finalidade educacional, ela deixa de ser ciência e se torna magia, ou pior, religião... Mas muitas vezes me deparo com grandes físicos falando completas idiotices sobre biologia, ou grandes psicólogos falando merda sobre química, e isso sempre me desmotivou a criar um meio de divulgação científica.

E por estes dois motivos é que nunca criei este blog. Até agora. Mas partindo do pressuposto que eu vou escrever coisas sobre as quais eu entendo e também, inevitavelmente, escrever um monte de merdas sobre coisas que eu desconheço, me senti livre para dar o primeiro passo. E infelizmente, o primeiro passo para se criar um blog é escolher um nome (o que, para muita gente pode parecer normal, mas no meio acadêmico é uma aberração, simplesmente porque a regra de ouro na escrita científica é deixar o título por último!).

E é por isso que decidi intitular este blog de "Não acredite nisso", porque por um lado, não quero que acreditem em mim, quero que leiam, assimilem, estudem e pesquisem sobre o assunto. E, por outro, como já disse antes, sem a pesquisa individual, o estudo e a análise critica de várias fontes, qualquer coisa vira ideologia. E esse não é meu objetivo.

Obrigado e até mais.