segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Feminismo: A luta contra...o Homem?

Eu, Feminista
Desde minha adolescência eu me considero um feminista. Simplesmente ouvi a palavra e olhei no dicionário (infelizmente há mais de 14 anos não tínhamos internet, e muito menos o google...). E estava lá:

Feminismo: Movimento que luta pelos direitos iguais entre os sexos.

E minha reação foi automática e completamente natural: Legal, eu apoio isso. Sou um feminista! Afinal, sempre tive muitas amigas... Aliás, já fui muito taxado na escola por conta disso, mas o fato é que, eu não apenas sempre tive desejo por mulheres, mas sempre... Gostei de mulheres. E inclusive acho meio estranho o machista dito heterossexual que não suporta ficar em ambientes femininos e que sempre quer ter um homem junto pra poder conversar, dar risada, trocar socos carinhosos... (E gay sou eu!?).

Mas bem, desde essa época me considero um feminista, sempre apoiando direitos e deveres iguais para ambos os sexos, mesmo por que, não sendo um garoto heterossexual típico (homofóbico, sexista, misógino), eu sempre sofri muito com o machismo. Achava um absurdo ter que me policiar para ser visto como homem de verdade e, especialmente, não poder ter amigas (porque homem de verdade não tem amiga, tem alvo...). Durante a faculdade fiz alguns projetos de pesquisa sobre gênero e estudei bastante a questão da masculinidade (vou deixar umas referências pra quem se interessar lá embaixo). E esse é um tema que ainda gosto muito de discutir e acredito que guia meu dia-a-dia, me auxiliando a refletir sobre minhas atitudes e pondo em evidência os resquícios de machismo nos meus comportamentos.

Eventualmente parei de estudar gênero por que mudei de área de pesquisa, mas sempre continuei apoiando o movimento e eventualmente informando pessoas sobre o assunto, apontando atos machistas... Nada de ativismo, e sim coisas do cotidiano. Mas durante os últimos tempos, comecei a ver tantas críticas ao feminismo, tantos vídeos e textos, que me causaram certo estranhamento. Por que mesmo pessoas que eu respeito estavam dando declarações antifeministas e ao mesmo tempo, antissexistas... O que pra mim, é bizarro, porque sempre entendi o feminismo enquanto um movimento antissexista... Não?

  O Anti-Feminismo

Nessas declarações, vi muita gente reclamando de várias coisas, mas principalmente sobre o tratamento que o movimento feminista dava ao homem. Por este não se preocupar em defender também os seus direitos, e tentando almejar privilégios (o famoso: "Mulheres e crianças primeiro"). Falam do direito a se aposentar mais cedo que a mulher tem, da obrigatoriedade do homem em servir o exército, da licença paternidade ridícula que o homem usufrui, da lei Maria da Penha, que não protege homens em caso de violência doméstica, etc...

(E há algum tempo atrás até descobri que existia um movimento de homens que defendia os direitos de homens e achei, de início, muito interessante. Mas depois descobri que é, na verdade, um movimento extrema-direita que dá nojo pra cacete, então nem vou colocar esse dito movimento em pauta. Mas fica a dica pra quem não conhece, se ouvirem falar sobre "o contrário do feminismo", corram para as colinas!!!)

O fato é que, sim existem diferenças no tratamento de homens e mulheres. Existem sim, leis sexistas que acabam por oprimir ambos os sexos de formas diferentes. Sim, os homens também sofrem com o machismo, principalmente aqueles que são sensíveis ao assunto e percebem que toda e qualquer obrigação baseada no sexo é uma opressão. Mas os "privilégios" das mulheres que vemos atualmente não devem ser combatidos enquanto culpa das mulheres ou do feminismo, mas sim do machismo, por que as leis que regem a nossa sociedade foram criadas a partir do ponto de vista machista!! Isso tem que ficar bem claro, por que a maioria das pessoas não percebe que esse fenômeno não opera em nossa sociedade simplesmente na violência física contra a mulher, mas também está nos comportamentos simples. Quer exemplos? Abrir a porta do carro para que mulher entre, pagar por tudo (jantar, cinema, etc...) quando sai com uma mulher, sair brigando na rua pela honra de uma mulher. Discriminar mulheres que são sexualmente ativas. E tem mais um monte...

Então sim, eu sou feminista por que sou simplesmente contra tratar a mulher de forma diferente. É óbvio que sempre vamos tratar indivíduos de forma diferente, mas tratar um indivíduo de forma diferente baseando-se simplesmente em seu sexo é sexismo. Simples. E se a definição de feminismo é ainda aquela dada pelo dicionário há 14 anos, sou um feminista ferrenho.
Mas... As coisas sempre complicam...

            O Papel do Homem

Ontem um vlogueiro famoso e que eu gosto muito postou em sua página do Facebook a seguinte frase: "Alguma amiga feminista aí pode me explicar que merda é essa de falar que homem não pode discutir feminismo agora? Isso aí é coisa de umas doidas né, por favor? Não é o que vocês todas estão pensando, espero."

E a coisa toda deu merda. Até onde eu acompanhei tinham mais de 500 comentários [editado: mais de mil comentários...], uma discussão acalorada e opiniões de certas feministas que me fizeram realmente repensar minha posição... Opiniões como "homem não tem que reclamar de porra nenhuma, tem que ficar quieto e OUVIR" ou "Simplesmente por ser homem, você é o opressor, então não tem papel aliado ao oprimido" ou "Você não sabe fazer uma análise de classes, então fique quieto e vá estudar" (WTF), ou "Ser anti-sexista é sua obrigação e não tenho que te explicar nada" e outras coisas que já nem me lembro mais...

E ai comecei a pesquisar e repensar sobre o assunto... 

Acho que o principal ponto aqui é que existem vários movimentos feministas, sendo que alguns são mais radicais que outros, enquanto alguns querem criar espaços exclusivamente femininos, outros aceitam homens, e outros ainda querem as duas coisas. Uns aceitam que homens falem, mas outros acham que o simples fato do homem querer tomar a palavra um ato de machismo. Inclusive existem algumas frentes feministas que excluem qualquer um que não seja uma mulher "de verdade" (ou seja, fora trans!). 
Então me pergunto neste caos todo, qual é o papel do homem dentro de um movimento que, a priori, defende os direitos iguais entre os sexos?

Eu pessoalmente abomino essa ideia de que simplesmente pelo fato de eu ser homem, sou um opressor (eu, como indivíduo, sendo opressor de mulheres) e que por ter privilégios na sociedade, não posso ter voz alguma enquanto feminista... Na verdade, nem abomino... Simplesmente apago na minha memória. Por que essas opiniões são sexistas no mais puro sentido da palavra. Existem sim homens que não são sexistas e que estão sendo oprimidos simplesmente por conta de seus corpos... Ter um pênis não e minha escolha, eu nasci assim... Ser hetero não é minha escolha, eu nasci assim, agora, ser feminista é minha escolha de vida, então quando sou rejeitado por coisas que não escolhi e não sou reconhecido por minhas escolhas, a coisa toda fica muito injusta.

Lutar contra o machismo ou contra os homens? (ou, Dar tiro no próprio pé ajuda?)

Aqui vai a minha opinião de um movimento feminista ideal. Isso não é machismo, isso é opinião, e eu não estou entrando num grupo feminista e colocando meu ponto de vista em prática, não estou coagindo ninguém a fazer o que eu penso. Estou escrevendo no meu espaço, fazendo uso da minha liberdade de expressão. Está claro? Pois bem...

Um grupo que defenda direitos iguais entre os sexos deve sim dar mais atenção às mulheres, e sim, concordo que as decisões devem ser feitas por mulheres, guiando seus objetivos em prol de uma sociedade que seja mais igualitária na questão dos sexos, principalmente em nossa sociedade, em que o machismo é fortíssimo, sutil ou escancarado, e causa o sofrimento de muitos, principalmente de mulheres. Mas esse movimento deve valorizar muito a participação de homens, não por que "nós, homens" (como se fosse um grupo heterogêneo... cf  Schpun, 2004) somos especiais, mas por que somos os representantes sim do machismo, então nossa participação no movimento legitima a finalidade do movimento, de igualdade contra um inimigo em comum, o machismo.

Grupos que excluem homens do movimento feminista e que levantam a bandeira de que o inimigo é o homem, e não o machismo, estão sim dando tiros nos pés, por que, de forma contrária, legitimam a desigualdade de dentro pra fora... Argumentos como esses que citei acima (que fizeram no post do vlogueiro) apenas fazem com que eu me sinta marginalizado dentro de algo que defendo e acredito há mais de dez anos... E isso é dar tiro no pé sim! Não por que acho que a minha participação individual seja grande merda, mas se a cada frase dessas, o movimento perde N aliados, no final, o feminismo vai dar vários passos pra trás, e voltar a um momento em que eram marginais de verdade.

Quanto aos argumentos antifeministas que tenho ouvido, acho que são válidos até certo ponto, por que apesar das leis sexistas e privilégios e faltas de direitos e etc... Vejo sim, movimentos feministas que defendem direitos dos homens, como o exemplo da questão da licença paternidade e do projeto de lei nº293 de 2013 (criado por um órgão de defesa da mulher, vale mencionar) contra a violência de gênero, que não especifica sexo nenhum , nem do agressor e nem do agredido em contextos domésticos e, portanto, também protege o homem.

Outra coisa, acredito sim que o movimento feminista se compromete a lutar em questões que a diferenciem na sociedade e que, por conseguinte discriminem os homens, como a aposentadoria mais cedo ou o direito/dever de servir o exército (conheço muitas mulheres que sofrem pelo fato de não poderem servir o exército aos 18 anos). Então essas reclamações específicas, são enviesadas.

Só pra concluir, ainda me considero um feminista e acredito que o feminismo ainda tem muita luta pela frente. E esses grupos que não querem minha presença, simplesmente por conta do meu sexo biológico... Uma pena pra eles, cada um com sua luta.

Dicas de leitura e referências:

Badinter, Elisabeth. XY: sobre a identidade masculina. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1993.

Bourdieu, Pierre. A Dominação Masculina. Tradução. Maria Helena Kuhner. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003.

Nolasco, Sócrates. De Tarzan a Homer Simpson: banalização e violência masculina em sociedades contemporâneas ocidentais. Rio de Janeiro: Rocco, 2001.

Nolasco, Sócrates. O Mito da Masculinidade. Rio de Janeiro: Rocco, 1993.

Schpun, Mônica Raisa (org.). Masculinidades. Boitempo Editorial-Edunisc, São Paulo. 2004.


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